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domingo, 9 de janeiro de 2011

"Sobrenatural" Capítulo 1

Sim, eu sei que fiz uma promessa que não cumpri...Mas também foi só uma xD

E outra coisa que eu reparei quando acabei de escrevê-lo é que está bastante "abellezado".  (Uau, inventei uma palavras nova --') Mas como eu digo, o princípio nem sempre é o melhor.

Capítulo 1

Apesar do sol forte, a temperatura dentro da marquise assemelhava-se a um gelo de morte. Lia aconchegou a manta polar de um tom amarelo-torrado em redor dos ombros, enquanto apreciava o cheiro característico a chá quente de limão e laranja.
Deu mais um gole da chávena; o vapor descongelou-lhe a garganta e aqueceu-lhe o corpo. Uma comédia romântica de domingo à tarde passava no televisor, mas ela não prestava atenção; decidiu concentrar-se nas unhas pintadas de rosa e nos pés enroladinhos no sofá.
Precisava de esquecê-lo, ali e agora.
Uma imagem do seu rosto passou-lhe pela mente, mas Lia abanou a cabeça de modo a dissipá-la. Parecia ridículo que, após tantos dias, ainda pensasse nos lábios carmesins e no aroma a baunilha. Quem se interessaria por uma rapariga como ela, comum como muitas outras? Não havia nada que a distinguisse das demais. Talvez umas réstias de ingenuidade.
"Tão burra!" - o grito desesperado ecoou-lhe nos pensamentos, deixando-a desnorteada. Havia tudo sido um erro. Um erro culpa dela.
Apaixonar-se é um erro.
Era naqueles momentos que ela queria bater com toda a força contra uma parede, por mais dura que fosse. Mas não, tinha que comportar-se como as outras, falar como as outras, vestir-se como as outras. A etiqueta deixava-a de rastos.
Ele tinha uma personalidade forte que a deixava sem ar. Coragem e determinação não lhe faltavam.
Ela é que nunca devia ter existido.
Desligou a televisão, cortando a mulher a meio da sua deixa. No primeiro segundo, o silêncio reinou em toda a casa, onde mais nenhum dos membros da família estava presente, mas foi quebrado pelo estrondo da chuva por todas as janelas da casa. Como podia o tempo mudado tão rapidamente?
Depositou a chávena já vazia na pia e pôs-se a vasculhar os cantos. O mundo parecia ter-se esquecido dela.
Acabou a ronda enrolada na cama do seu próprio quarto a olhar para o tecto. A chuva havia parado e Lia, com uma mão tentava enxutar a gata persa para o chão. Esta, incomodada, enrolou-se na carpete do quarto, feita uma bola de pêlo branquinha e fofinha.
Erros.
Era tudo o que havia feito. Acreditar enquanto tudo era, na verdade, impossível. Uma escolha precipitada.
Queria gritar a plenos pulmões, mas quem iria lhe dar ouvidos? Teria que viver com isso. Mas por quanto tempo prolongaria uma paixoneta de adolescente no seu coração despedaçado? Seria tempo suficiente para encontrar outro rumo e enganar-se novamente?
Lia não podia chorar. Não queria dar-se por vencida ainda, apesar de algo na sua cabeça exclamasse para que o fizesse.
Deu uma espreitadela no telemóvel. Tinha deixado desligado durante todo o fim-de-semana para manter-se afastada do mundo exterior, mas sabia que já deveria haver algum sem resposta a entrar em "pânico".
E estava praticamente correcta em relação à lista infindável de mensagens por responder e de chamadas perdidas. Tudo da mesma pessoa: Juliana.
Em geral, a sua melhor amiga tinha um carácter um pouco incompreensível e imaturo. Entrava em desespero se fosse ignorada, ou pior, se alguém não fosse capaz de atender as suas chamadas. E sabia-se lá o que podia estar a passar pela cabeça daquela rapariga.
Decidiu-se por não dar sinais de vida e continuou a admirar o tecto. Quem sabe, talvez, ainda chegasse o seu dia, a sua altura de brilhar...

***
O vento cortante cismava em levar consigo o cachecol com que Lia tentava, a todo o custo, tapar as orelhas, a boca e o pescoço. Apenas para não escutar os zumbidos gélidos da madrugada, colocou rock no seu iPod a um volume considerável.
Nada de muito signficante para uma segunda-feira, para além do facto de serem oito da manhã e de estar numa correria infernal por todas aquelas ruas. Se houvesse alguém que odeie saborear o amanhecer durante um dia de semana, ela estaria sem dúvida num lugar privilegiado da lista. Não é que não gostasse de sentir o sol a bater-lhe na cara, mas sim o facto de saber que mais um dia estava a começar e, antes que desse por isso, antes que pudesse ao menos aproveitar, tinha acabado.
E além disso, os outros. Que é o mesmo que dizer os grupinhos irritantes em que os membros nunca se largam. Seja qual for a situação.
Deixou os Three Days Grace a tocarem sozinhos para os auriculares e virou-se, molengona, para quem havia tocado no seu ombro.
- O que é? - suspirou, desejando nem estar presente para ouvir a resposta.
- Não atendeste nenhuma das minhas chamadas - Juliana fez beicinho como se fosse uma criança que ansiava por uma guloseima.
- Fiquei sem bateria no telemóvel e só lembrei-me de carregá-lo ontem - foi a primeira e mais esfarrapada resposta que lhe surgiu na cabeça. Mas, mesmo assim, a amiga deu-se por satisfeita e recompôs-se, debatendo-se para conseguir manter o cabelo liso no meio de todo aquele vendaval.
- Eu pensei que pudesses ter ficado mal...
Lia nem a deixou acabar; cortou-a a meio da frase, tentando não parecer inconveniente ou muito nervosa.
- Eu não estou mal; estou perfeitamente normal - fez um sorriso (o mais amarelo que conseguiu) e ponderou se estaria demasiado corada para Juliana desconfiar da sua pequena mentira.
Mas também não sabia explicar o que estava a sentir. Vergonha? Arrependimento? Sentia-se confusa.
- Okay, vossa excelência é que manda - respondeu, irónica, e levantou ambos os braços em sinal de desistência.
Sem terem dado por isso, estavam a entrar em território escolar e os estudantes presentes no recinto tentavam aquecer-se com toda a roupa que tinham no corpo (apesar de o vento ter, misericordiosamente, abrandado um pouco). Mas, no meio disto tudo, havia gente a tagarelar de um lado para o outro e os "grupinhos" pareciam mais unidos com o frio.
Lia continuou a sua singela caminhada até ao edifício. Com a ajuda do calor humano, a temperatura no local era superior ao exterior e ela ainda ponderou se deveria ou não retirar o cachecol. Decidiu-se por mantê-lo.
Juliana, essa nem precisava de saber onde a outra iria; era um ritual diário e contínuo: atravessar todos aqueles corredores a abarrotar de gente a andar de um lado para o outro, procurar um número e esperar. A vida parecia ser uma anedota e estava todos os dias a rir-se delas.
- Olha quem anda aí - comentou Juliana, seguindo Lia de perto enquanto esta procurava por uma carteira vazia numa imensidão de outras cheias. Como sempre, quando ela achou um lugar, sentou o rabo no tampo da secretária e cruzou ambas as pernas, num gesto de provocação e superioridade, como ela gostava de ser vista.
Lia nem precisou de muito tempo para saber a quem ela referia-se; o tom de voz dela mudava automaticamente para puro escárnio, mas ela, mesmo assim, fora demasiado estúpida em acreditar em si mesma.
- Sua excelência real...! - ironizou - Ai, Joãozinho, Joãozinho, o teu problema é teres nascido - Juliana apelidava-o assim porque ele era, bem, abastado. Apesar de João não dar muito nas vistas sobre o assunto, já todos o sabiam. Isto e o facto de ele transpirar um encanto fatal por todos os poros eram os iscos perfeitos para atrair qualquer uma.
- És tão maldosa - Lia contrapôs-se, num tom de brincadeira. A amiga atirou-lhe um sorriso de orelha a orelha.
- Eu esforço-me.
Tiveram que terminar a conversa porque o professor havia entrado e mandado todos sentarem-se, aclarando a garganta num tom autoritário. A turma seguiu a ordem com obediência. Todos sentiam respeito por aquele homem bigodaço, com os olhos pequeninos, não maiores pequeninos. Mas eram as feições duras (como um sargento militar) que o mais o caracterizava. Os alunos não sabiam mostrar como se sentiam, se um misto de medo ou de educação.
Ela detestava ficar na carteira mais longínqua da janela; logo de manhã, conseguia sentir-se melhor apenas em ver o sol brilhante a ofuscar a paisagem açoriana, e mesmo só um olhar deslocava-a para fora do perímetro, deixando-a a quilómetros de distância da realidade.
Mas naquele dia o céu permanecia cinzento, tal e qual como o seu humor. O único refúgio da sua imaginação parecia estar encerrado ao público, e a sua única escolha era continuar a ouvir o burburinho das conversas do lado.
Normalmente, ninguém a achava engraçada e eram poucos os que se atreviam a deitar-lhe um olhar em cima mais que um minuto sem que tenham que a examinar por corpo inteiro. Juliana sempre afirmara ser inveja, porque Lia tinha um cabelo negro como azeviche, que caía numa cascata ondulante e constratava com a tez de porcelana. E sim, ela era diferente. Diferente por que não se achava o máximo e sabia sempre quando admitir um erro.
Juliana podia considerar-se como a sua única verdadeira amiga, digamos. Ou pelo menos a única com quem conseguia ter uma conversa sem que descaísse para fins despropositados.
Reencostou-se na cadeira e procurou um ponto para distrair-se, apesar de saber que tinha de tomar atenção em qualquer aula.
Mas, apesar de ser diferente, ela também se sentia e magoava-se como os outros. E isso era mais que visível, mas ninguém o queria ver ou admitir. Até ser desgostosamente corrompida. E tudo aquele processo havia deixado estragos.
Cada minuto que passava era detestavelmente longo... Mas apenas não sabia que não era o pior caso...

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